Já fiz mais de um post falando de minhas leituras da Bíblia, já que quando termino uma começo, logo a seguir, uma nova, mas como é um assunto inesgotável... aqui estou eu de novo.
O nome Bíblia vem do Grego e quer dizer livros, pois é o que ela é: um conjunto de vários livros escritos separadamente, por pessoas diferentes, em épocas diversas, estimando-se um intervalo de cerca de 1500/1600 anos entre o primeiro (Gênesis ou Êxodo) e o último a ser escrito (3ª Epístola de João).
Alguns destes livros, com o tempo, foram sendo reunidos em pequenos grupos, como as cartas do Apóstolo Paulo e a "Torah" judaica, composta de cinco livros que, hoje, são os primeiros do Velho Testamento, também chamados de "Pentateuco", de penta = cinco (bem, isso os brasileiros sabem bem, ainda não passamos para o hexa...) + "teûchos" (livro em latim - segundo o Aurélio).
A formação da Bíblia, ou seja, a escolha dos livros que a comporiam, foi objeto de muitos estudos e discussões, baseados na originalidade dos manuscritos, a consistência dos ensinamentos com os demais livros, bem como sua relevância, quer dizer, se não apenas repetiam o que já constava dos demais.
Assim, temos uma primeira divisão em duas partes: O Velho Testamento (os livros judaicos, referentes ao período anterior a Jesus Cristo) e o Novo Testamento (os livros cristãos - sobre a vida de Jesus e o início de sua igreja).
Quanto ao Novo Testamento, ele é exatamente o mesmo nas Bíblias protestantes, católicas e ortodoxas: 27 livros (4 evangelhos, Atos, 21 epístolas e Apocalipse).
A única divergência está no Velho Testamento. Entre os séculos III e I antes de Cristo, 70 sábios judeus, reunidos em Alexandria, teriam feito uma tradução de livros hebraicos para o Grego, tradução esta conhecida como "Septuaginta"
(
imagem).
Posteriormente, no ano 90 de nossa era, no Concílio de Jâmnia, foi estabelecido o Cânone Hebraico, fixando como sagrados 39 livros, o "Tanakh".
É preciso analisar a questão com um distanciamento histórico e perceber as diferenças técnicas/tecnológicas entre nossa época e os períodos citados. Hoje, qualquer um chega na papelaria da esquina e compra papel escolhendo entre diversas cores e qualidades, canetas de qualquer cor e tipo de tinta mas, embora seja óbvio, sempre é bom lembrar que nem sempre foi como agora. (
Eu, que não sou tão velha assim, estudei em uma escola que ainda tinha mesas antigas onde se viam furos onde os alunos que primeiro as utilizaram podiam encaixar os "tinteiros"...)
Bom, voltando, não havia imprensa nem papel nem tinta à venda. Os livros eram copiados à mão (porque os materiais se deterioravam e se não fossem copiados, os livros seriam perdidos), com tinta fabricada a partir de frutas e pedras moídas, escritos em peles de animais ou papéis artesanais feitos com fibras vegetais, tudo muito difícil, complicado e demorado.
(ver o blog:
http://letraslivroseafins.blogspot.com/2007_04_01_archive.html)
Isso sem falar nas dificuldades de tradução... O hebraico, após ter sido levado o povo Hebreu/Judeu para o cativeiro Caldeu/Babilônico, quase se perdeu. No tempo de Jesus, a língua oficial de Israel/Palestina era o Aramaico e não o Hebraico, língua que passou a ser dominada apenas pelos estudiosos. (
Como curiosidade, o episódio do Apóstolo Paulo que, ao ser preso, se dirige à população em Hebraico, causando surpresa, pois somente um estudioso das escrituras a conheceria -
At.22).
Daí, que a igreja, no início, utilizou a versão grega, traduzida para o latim, língua oficial da igreja durante muitos séculos. Somente com Lutero e a reforma protestante (1517), decidiu-se utilizar o Cânone Hebraico para o Velho Testamento.
Conseqüentemente, as traduções protestantes são compostas de 66 livros e as católicas/ortodoxas de 73 livros, com alguns capítulos a mais no livro de Daniel. (Eu já li as duas versões).
Os textos eram corridos e sua divisão em capítulos e versículos foi ocorrendo aos poucos, primeiro em seções, depois em capítulos e, finalmente, em versos/versículos.
A divisão em capítulos é atribuída, principalmente, a 3 pessoas distintas:
1 - Lanfron, arcebispo de Cantuária, século XI.
2 - Estêvão Langton, professor da Universidade de Paris, século XIII, morto em 1228.
3 - Hugo de Saint-Cheir, século XIII, falecido em 1263.
A divisão em versículos numerados teria sido feita por Roberto Estéfano, impressor francês, do Velho Testamento em 1548 (Vulgata) e do Novo Testamento em 1551.
Assim, na versão protestante, teríamos hoje:
Velho Testamento = 39 livros, 929 capítulos, 23.214 versículos
Novo Testamento = 27 Livros, 260 capítulos, 7.959 versículos
Total = 66 Livros, 1.189 capítulos e 31.173 versículos.
Os primeiros trechos da Bíblia teriam sido traduzidos para o Português no séc XIII por Dom Diniz, mas a primeira tradução de maior porte (quase completa) foi do missionário João Ferreira de Almeida (1628-1691), utilizada como base de várias traduções atuais.
continua...