segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ana Karênina - 3

Ana Karênina
Leon Tolstoi (1877)
Editora Abril (749 pág.)

Bom, os posts anteriores foram uma espécie de desabafo pela dificuldade de chegar ao fim do livro, mas vamos ao romance em si mesmo.

O livro foi escrito quando Tolstoi tinha cerca de 47/49 anos e foi publicado como novela em um jornal.  Parece que o personagem de Ana tenha sido inspirado na filha mais velha do também escritor Alexandre Pouchkine.

A trama apresenta dois casais, o de Ana e Vronski, vivendo em uma situação irregular, cheios de ciúmes e inseguranças e o de Kitty e Liêvin, um amor pleno, em que cada um se preocupa em fazer o outro feliz.  Por esse motivo, Tolstoi pensou em dar à obra o nome de "Dois casamentos, dois casais".

O fio de ligação entre os dois casais é a pessoa de Vronski que,  ao despertar paixões em Kitty e em Ana, transtorna as vidas das duas, no caso de Ana, a faz romper o casamento formalizado com Karênin e a afasta de seu filho, Sierioja, a quem ela muito amava e, no caso de Kitty, quase impede o casamento com Liêvin.

Tolstoi monta toda sua narrativa em torno da força da família e de como sua destruição pode causar dor e sofrimento e inicia o romance com a frase que se tornou famosa:

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira".

De forma paralela, outros casais aparecem: o de Dolly e Stiva,  no qual ela, por amor ao marido e aos filhos, finge ignorar suas traições e suporta todas as dificuldades financeiras causadas pela imaturidade dede, o dos pais de Kitty, que se amam e se respeitam, apesar das diferenças de personalidade, o casal do infortúnio, de Nicolau e Maria, em que esta não o abandona, apesar da doença e miséria, o casal que não chega a se formar, de Varienka e Sérgio.

Outro fio de ligação é o trem. Ana e Vronski se conhecem na estação, quando acontece um acidente. Oblonski quer um cargo ligado à Companhia de trens, Ana vai ao encontro de Vronski em um trem... os voluntários, no final, vão para a guerra de trem. 

Por outro lado, a história também se firma sobre duas colunas, Ana e Liêvin que passam quase toda a história sem se conhecer, sendo que ambos buscam o amor e o prazer, embora tenham efetuado esta busca em direções diametralmente opostas.

Infelizmente, após páginas e páginas de descrições, detalhes, conversas, visitas, Tolstoi resolve terminar a história.  É, simplesmente resolve terminar, assim, e o final realmente é decepcionante, especialmente pelo grande drama envolvido. Faltava muito mais.

Parece que ele próprio teria interrompido a obra por mais de ano e que o final só veio após esse intervalo.  Talvez isso explique o final ser tão afastado do enredo, quase descolado dele. Li em algum lugar que o fim teria sido motivo de discussões com o editor do jornal, mas não sei se é verdade e se tal discussão produziu alguma modificação no texto.

Apesar da falta de desenvolvimento do final, com vários personagens meio deixados de lado, pode ser que Tolstoi tenha escolhido fazer assim propositalmente, já que centraliza o foco sobre a questão da busca existencial e espiritual de Liêvin, fazendo com que tudo o mais seja irrelevante, "Vaidade, nada mais que vaidade", para citar o autor de Eclesiastes.

Resumindo, depois de tantas idas e vindas na minha leitura, que durou tantos anos, eu confesso que esperava um pouco mais, mas ainda assim é um bom romance, bem escrito, cujos personagens, como já disse, ganharam vida, e não é à toa que virou um clássico. 


Muitas vezes acontece lutar um homem que dorme com um sofrimento de que desejaria libertar-se, verificando, ao acordar, que é no fundo dele próprio que o sofrimento reside. (5ª parte - cap. XIV)

[terminei em 20/04/2010]

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