quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Esperando Godot


En Attendant Godot
Samuel Beckett (1949)
(134 pág.)
(Meus agradecimentos à Mediateca da Maison de France pelo empréstimo do livro)

Peça de teatro, em dois atos, representante do teatro do absurdo.
Dois mendigos (Estragon e Vladimir) esperam Godot e falam enquanto isso.

 Desde a primeira representação da peça, se pergunta qual o sentido escondido da obra, o que o autor queria dizer.  Este questionamento se baseia principalmente sobre a personagem (Godot) citada no título e mencionada ao menos 38 vezes na peça.   "Quem é Godot?" pergunta Pozzo no primeiro ato.

Já se suspeitou que o nome viria da junção de "God" (Deus em inglês) com o sufixo diminutivo em francês "-ot", interpretação recusada por Beckett, que afirmava que o nome viria da gíria francesa "godillot, godasse" referente aos sapatos que aparecem constantemente na peça.

O fato é que a associação de Godot com Deus é fortalecida pela profusão de citações e referências bíblicas no texto e às expectativas que os personagens possuem em relação a ele:
"É Godot! Enfim! ... Nós estamos salvos!"; "... este ... Godot ... do qual vosso futuro depende ..."; "- Se nós o deixássemos para lá? - Ele nos puniria.";  "Qual é o nosso papel nisso tudo? - Nosso papel? Aquele do suplicante" e, ainda, "- E se ele vier? - Nós seremos salvos."

O primeiro ato é lento, quase insuportável, o que parece proposital - para marcar o tédio, o desespero, mas o ritmo é mais ágil no segundo.  O cenário mistura a natureza e a intervenção do homem (o meio de uma estrada onde só há uma árvore sem folhas), mas é um lugar isolado, lugar de passagem, onde não se fica para sempre, metáfora da vida.

Minha impressão é que o autor não pretendia apresentar soluções, sendo o texto principalmente um enorme questionamento sobre a existência humana, em todos os seus sentidos.  A primeira frase é representativa, Estragon tenta tirar os sapatos e diz: "Nada a fazer."
A frase retorna, mais tarde, com um sentido mais definido, demonstrando toda a desesperança com relação ao futuro:
            Estragon - Mesmo que a gente mude.
            Vladimir - A gente continua o que é.
            Estragon - Mesmo que a gente se agite.
            Vladimir - O fundo não muda.
            Estragon - Nada a fazer.

E, ainda:  "- ... Diga-me o que é preciso fazer.  - Não há nada a fazer."

Através de diálogos aparentemente destituídos de sentido, Beckett fala de todas as necessidades e preocupações humanas: o alimento (cenouras, nabos, ossos, frango), a vestimenta (calçados, trapos, chapéus), a arte (canto, dança, filosofia), o dinheiro, o sofrimento, a violência, a doença, os pesadelos, o tempo, a morte, o suicídio, a loucura, as relações humanas, a memória, o esquecimento, a necessidade e a solidão.
Os personagens suplicam por ajuda, mas não vêem solução e, quase no fim:
            Estragon - Eu me vou.
            Vladimir - Eu também. 
            ...
            Estragon - Onde a gente vai?
            Vladimir - Não muito longe.
            ...
            Vladimir - A gente não pode.
            Estragon - Por quê?
            Vladimir - É preciso voltar amanhã.
            Estragon - Para fazer o quê?
            Vladimir - Esperar Godot. 


Um menino chega para dizer que Godot não virá mais esta noite, mas que vem amanhã.  Eles tentam, uma vez mais, se enforcar com a corda que sustenta as calças de Estragon, mas ela está podre. As calças caem. O homem não está mais escondido. Ele está nu, como Adão diante de Deus.

Renunciam, então, ao suicídio.
            Então, vamos lá?
            Vamos. 


Mas eles não se movem, explica Beckett.

Pelo tamanho do post, dá para ver que gostei muito e recomendo.

[terminei em 10/08/2009]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, comente....
(este blog tem moderação, mas faço o possível para não demorar muito para aprovar os comentários)
Espero que tenha gostado.
Volte sempre!